Mais de 40% do rebanho bovino da Paraíba já foi dizimado pela
prolongada estiagem. Desesperados com a morte dos animais, pequenos
produtores da zona rural improvisam de tudo para salvar as últimas
reses. É o caso de seu Jorge dos Santos, 52 anos, que tem um pequeno
roçado no município de Itaporanga (na região do Vale do Piancó, a 420
quilômetros de João Pessoa). Sua última vaca leiteira, sem força para se
sustentar de pé, é amparada por uma tipoia feita com redes velhas
amarradas em quatro traves.
A cena dramática foi registrada pelo
padre Djacy Brasileiro, pároco da cidade de Pedra Branca, na mesma
região, que vem denunciando a falta de assistências dos governos aos
agricultores e produtores que perderam tudo o que investiram por conta
da seca.
Seu Jorge tinha 11 animais em seu rebanho. A maioria
morreu de sede e fome. Hipertenso, há uma semana ele foi encontrado
desacordado no meio do terreiro, próximo de uma vaca que também morreu
tentando parir. “A vaca, uma das últimas que eu tinha, morreu depois de
tentar parir e não ter forças. Não agüentei de tanta tristeza, passei
mal e desmaiei. Sofro de pressão alta e caí ao ver meu animal morrer de
fome, sede e sem ter sua cria”, narra.
Ele teve que se desfazer
de outros animais, vendendo-os a preço abaixo do mercado local, para
fugir de um prejuízo maior. A única vaca que sobrou está magra e mal
consegue parar de pé. Pele e osso sustentados por cordas de agave, para
tomar água e comer das mãos do seu dono.
A
tentativa desesperada de seu Jorge para manter vivo seu último animal é
comovente. Ele diz que vai fazer tudo que puder para que a vaca
sobreviva até fevereiro do próximo ano, quando a Agência Executiva de
Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa) prevê que chova na região.
Para seu Jorge, esse último animal é um símbolo da perseverança e da
resistência do povo sertanejo.
Itaporanga é um dos 195 municípios
sob estado de emergência decretado pelo Governo do Estado. O principal
manancial que abastece o município, o açude Cachoeira dos Alves, com
capacidade para acumular 10,6 milhões de metros cúbicos de água, está
com menos de 33% do seu total.
O município tem uma população
estimada em 17.632 habitantes, sendo que na zona rural moram 5.563
pessoas. Seu Jorge está entre os moradores da zona rural, no sítio
Riachão. CORREIO DA PB
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