No segundo semestre de 2013, as filmagens da minissérie Amores roubados mudaram a rotina das cidades de Petrolina (Pernambuco) e Juazeiro (Bahia), que serviram de locações para diversas cenas. Agora que o resultado está no ar em rede nacional, os moradores começam a entender melhor o que se passou e chegam a questionar como algumas paisagens e situações foram usadas, apesar de terem consciência do caráter ficcional da trama da Rede Globo.
“Achei interessante como eles retratam as mudanças ocorridas na agricultura de irrigação”, observa o aposentado Carlos Alberto, de 67 anos, ex-funcionário da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Ficou bem real, mas não vejo nada demais na dramaturgia, que continua aquela coisa global, com sotaque nordestino forçado”, critica.
Durante as filmagens, a presença de atores famosos nas duas cidades virou o assunto preferido dos petrolinenses e juazeirenses. A ponte que liga as duas cidades chegou a ganhar uma nova iluminação montada pela Globo, que a mostraria no fundo de uma cena filmada em um hotel na orla de Juazeiro. Alguns achavam que os refletores continuariam no local, mas tudo foi desmontado no final das gravações (atualmente os postes estão com lâmpadas cobertas de verde, cor usada na campanha eleitoral do prefeito de Petrolina).
“Deixaria minha crítica para a omissão do enólogo na trama. O sommelier, personagem de Cauã, é um profissional pelo qual temos muito respeito, mas uma vinícola não existe sem o enólogo. Senti falta disso”, aponta a enóloga Ana Paula Barros, de 27 anos. Segundo ela, “o sommelier trabalha em algumas vinícolas, mas ele atua apenas na pós-produção, na venda de vinhos, degustação... ele atua mesmo em restaurantes”.
Ana Paula nasceu em Juazeiro e é professora de enologia no Instituto Federal do Sertão Pernambucano. “Estou nesse meio há nove anos e afirmo que nenhum governo teve ações que promovessem nossa vitivinicultura como nesses primeiros episódios da minissérie global”, enfatiza a baiana. “Espero que essa divulgação alcance não só outras regiões do Brasil como também pessoas que vivem em nossa região e ainda não conhecem e valorizam nossas riquezas. Não sou expectadora assídua da Rede Globo, mas o tema da minissérie me despertou a curiosidade de como a região e a vitivinicultura do Vale do São Francisco seriam retratadas. Pessoalmente, tenho uma ligação forte com muito dos cenários, porque fizeram e fazem parte do meu cotidiano”.
“Achei esquisito ver os personagens saindo de Paulo Afonso ou Belém do São Francisco e chegando em Petrolina ou Juazeiro em poucos segundos, mas entendo que é tudo ficção e os lugares só serviram de cenário”, admite Débora Jade, de 24 anos, analista de recursos humanos. Para ela, “é muito bom ver nossa região ser retratada. Achei massa, apesar de o sotaque ainda estar exagerado”.
A professora Rafaela de Paula, de 22 anos, diz que se recusou a assistir aos programas: “Ouvi dizer que um dos personagens falou que as mulheres daqui são fáceis, então não quero nem ver para não ficar com raiva”. Ela diz que a mãe achou lindos os lugares retratados, mas não os identificou, apesar de sempre ter morado no Sertão do Rio São Francisco.
Irandhir Santos, que está no elenco de Amores roubados, volta a Petrolina e Juazeiro nesta semana por coincidência. Ele é o homenageado do festival Vale curtas, que ocorre até sábado nas duas cidades. O ator também participou do filme A história da eternidade, de Camilo Cavalcante, que também foi filmado nas redondezas e acabou de ser selecionado para o Festival de Roterdã (Holanda).
DEPOIMENTOS:
Nenhum comentário:
Postar um comentário