JC
“Quantas crianças vão ter que morrer para tirarem a gente daqui?”. O apelo da dona de casa Ester Gomes da Silva, de 49 anos, foi feito em meio aos prantos pela morte do sobrinho, Michael Marlisson, que completaria um ano nesta sexta, mas morreu afogado sob as palafitas onde morava em condições sub-humanas com os pais e a irmã de 4 anos, na comunidade República do Líbano, no Pina, Zona Sul do Recife. O menino foi enterrado nesta quinta, sob muita revolta, no Cemitério de Santo Amaro.
Ester diz ser comum as crianças da comunidade caírem pelas brechas do caminho de tábuas que levam aos pequenos barracos de madeira construídos sobre as águas onde os moradores sobrevivem catando sururu. “Minha filha mesmo caiu no domingo. Ela tem 16 anos, mas é especial. Só que a maioria das crianças sabe pedir socorro, Michael era muito pequeno”, lamenta, enquanto grita para as meninas que brincam ao lado tomarem cuidado. “Eu fiquei com elas enquanto todos foram para o enterro, era um menino muito amado”.
Muito abatida, a dona de casa conta que o bebê estava junto da mãe que catava sururu e quando ela se virou para jogar as cascas fora ele sumiu. “Foi um desespero. O pai arrancou umas tábuas que cercavam o barraco justamente para as crianças não caírem e mergulhou para procurar Michael. Ele estava cheio de água na boca, foi socorrido mas não teve jeito. Nosso menino se foi”. Os pais preparavam uma festinha de aniversário pra ele.
Ester acredita que o acidente poderia ter sido evitado. “Moro aqui há 16 anos, porque tinha de escolher entre pagar aluguel ou cuidar da minha filha. Mas a gente vive entregue às baratas, aos escorpiões, ratos, lixo, a tudo o que não presta. E a prefeitura está sempre fazendo promessa e não tira a gente. Sonho todo o dia em sair daqui para uma casa própria. Viver com criança aqui é um pesadelo”.
Prefeitura
A prefeitura não apresenta projetos para o local. Por meio de nota, informa que estimativas da Secretaria Executiva de Habitação do Recife indicam um déficit habitacional em torno de 60 mil unidades, tendo sido entregues 1.346, em 12 conjuntos habitacionais, desde 2013. Informa ainda que outros dez estão em obras, somando 1.293 moradias, com previsão de entrega para este ano. “Esses habitacionais serão ocupados por famílias já cadastradas nas comunidades onde estão situados, não existindo cadastro excedente”, salienta a nota.
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