terça-feira, 11 de julho de 2017

Dráuzio Varella: “O único lugar em que a mulher tem liberdade sexual é na cadeia”


 © Fernando Cavalcanti Drauzio Varella em seu consultório em São Paulo.
“A prisão é um experimento sádico da nossa sociedade”, afirma o oncologista e escritor Drauzio Varella. Mas sem ignorar a dor provocada pelo confinamento, abandono e distanciamento dos filhos e familiares, o médico vislumbra no cárcere um espaço onde mulheres conseguem se livrar, ao menos temporariamente, da repressão machista que impera do outro lado do muro. “As mulheres são reprimidas desde que nascem, não existe nenhum outro local na sociedade onde ela é livre assim como na cadeia”, afirma Varella em entrevista ao EL PAÍS. Atrás das grades da Penitenciária Feminina da Capital, no Carandiru, convivem em harmonia diversos tipos de sapatões (homossexuais que assumem aparência masculina), entendidas (homossexuais que mantêm aparência feminina) e mulheríssimas (heterossexuais que ocasionalmente tem relações com mulheres) – os termos foram criados pelas próprias presas. A exceção são as aborteiras, que precisam ficar em celas isoladas.
O escritor relata suas experiências tratando de detentas no livro Prisioneiras (Companhia das Letras). A obra fecha uma trilogia – os outros são Carandiru e Carcereiros ambos publicados pela mesma editora – sobre sua vivência de décadas atendendo de forma voluntária presos e presas paulistas. “Cadeia é um lugar muito sensível de uma sociedade. Se você visitar uma cadeia, um pronto socorro e um estádio de futebol lotado, você consegue fazer uma ideia de como é uma sociedade”, afirma.

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