sábado, 3 de março de 2018

"Eu me sinto desamparada", diz aluna condenada a indenizar professor


Garota diz que até hoje não conseguiu se recuperar / Guga Matos/JC Imagem

JC

“Estou me sentindo desamparada, porque eu não fiz nada demais e ninguém me dá apoio". A declaração é da jovem que, junto com a mãe, foi condenada a pagar R$ 5 mil de indenização a um professor da Escola Estadual Apolônio Sales, do Ibura, Zona Sul do Recife, por danos morais. Chorando bastante, durante toda a entrevista concedida à TV Jornal, a garota afirma que não se recusou a mudar de banca quando o docente mandou nem questionou sua autoridade. A advogada da família já entrou com recurso.


O desentendimento com o professor se deu em sala de aula em abril de 2016, dois dias antes de ela completar 18 anos. Na versão da jovem, que não quer ser identificada, ela estava respondendo uma pergunta da amiga e se calou quando ele se aproximou, mas ainda assim ele a mandou trocar de banca.
“Em momento algum eu disse que não ia mudar. Eu peguei minhas coisas e fui. Mas ele continuou falando e, muito arrogante, disse que eu era boa aluna mas estava sendo influenciada. O que eu falei para ele foi: – Professor, eu já tenho 18 anos, eu não sou influenciada por ninguém. Mas eu não quis desafiar a autoridade dele, apenas dizer que tenho idade suficiente para saber o que é certo e errado”, narrou, sempre muito nervosa e aos prantos. “Ele disse: – Quem come do meu pirão prova do meu cinturão”.

HOSTILIZADA

Depois de o irmão e a mãe da garota procurar a direção, resolveram acionar Secretaria de Educação, Conselho Tutelar e Ministério Público de Pernambuco. “A direção disse que ele era assim mesmo e os alunos tinham que facilitar para ele”, conta. “No dia seguinte, eu me ausentei para ir no Ministério Público ele saiu de sala em sala pedindo perdão por tudo o que tinha feito não só a mim, mas a todos os alunos. Quando cheguei no outro dia ninguém queria falar mais comigo nem sentar perto de mim”.

A garota diz que, inclusive, alunos chegaram a ameaçá-la para que retirasse a queixa, pois o docente já havia se desculpado. “Chutaram a porta da sala, gritaram, alguns me cercaram e disseram que iam me linchar”, relata. “Não tive mais condições de voltar, alguma coisa ia me acontecer. Fui para outra escola e, graças a Deus, acabei meus estudos, mas não consegui fazer o Enem. Se ele diz que ficou mal, estou mal até hoje. Não me recuperei. Eu não paro de pensar em tudo o que aconteceu um minuto”.

SEM APOIO

A mãe da jovem diz que muitas vezes, quando se denuncia, a parte mais forte vence. "Quem sou eu para a um professor, para a escola que o apoiou, para a Secretaria de Educação? Não apuraram os fatos de verdade, minha filha sofreu bullying dentro da sala de aula", declara.
Após as investigações terem sido arquivadas, o professor Jeff Kened Barbosa, de 63 anos, há quase 30 anos ensinando física e matemática, entrou com ação de danos morais. O juiz Auziênio de Carvalho Cavalcanti determinou a indenização. Na versão do docente, ele pediu três vezes para a aluna fazer silêncio e na quarta vez a mandou trocar de lugar, mas ela teria se recusado, afirmando que já tinha 18 anos e nem a mãe dela mandava nela. Ele chamou a coordenação, que a retirou da sala de aula.

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