Foto: Murillo Velasco/G1 |
O padre Robson de Oliveira Pereira pediu afastamento de suas funções do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno e da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), após investigação de desvio de R$ 120 milhões de doações de fiéis em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. A informação foi divulgada, na tarde desta sexta-feira (21), por meio de um documento assinado por Dom Washington Cruz, arcebispo da Arquidiocese de Goiânia.
Padre Robson, de 46 anos, é fundador e ocupava a presidência da Afipe. Até então, ele também era o reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno. Natural de Trindade, o religioso é uma figura presente na cena católica e tem um programa de TV em que promove momentos de reflexão com base em trechos da Bíblia e experiências pessoais, além de conselhos àqueles que pedem orientação religiosa.
Batizada de "Vendilhões", a operação que apura as irregularidades cumpriu, nesta sexta-feira, 16 mandados de busca e apreensão, inclusive, em imóveis ligados ao padre. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) investiga se o dinheiro pode ter sido usado para compras de bens luxuosos, entre eles, uma fazenda de R$ 6 milhões em Abadiânia, no leste de Goiás, e uma casa de praia, no valor de R$ 3 milhões, em Guarajuba (BA).
Operação 'Vendilhões'
A operação realizada nesta sexta-feira apura irregularidades na Afipe, entidade responsável pelo Santuário Basílica de Trindade. São investigados os seguintes crimes:
- Apropriação indébita
- Lavagem de dinheiro
- Falsificação de documentos
- Sonegação fiscal
- Associação criminosa
A juíza Placidina Pires, que expediu os mandados de busca e apreensão, também determinou o bloqueio de R$ 60 milhões de bens da associação. O MP-GO chegou a pedir a prisão de padre Robson, mas a magistrada negou.
Doações de fiéis
Segundo a denúncia do Ministério Público, Robson criou "várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome”. Conforme apurado pelo MP, as filiadas da Afipe também são voltadas para a “evangelização por meio da TV, para obras sociais e para a construção da Nova e Definitiva Casa do Pai Eterno, em Trindade” e que, para esse fim, recebem doações de fiéis de todo o Brasil.
Entre anos de 2016 e 2018, os donativos atingiram um montante de mais de R$ 746 milhões, de acordo com o órgão, que investiga se parte do valor, aproximadamente R$ 120 milhões, foram desviados para empresas e pessoas investigadas no processo.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, o volume de dinheiro movimentado “pressupõe ilegalidade”. Em uma década, os investigadores calculam uma movimentação de quase R$ 2 bilhões nas contas bancárias.
“O volume de dinheiro pressupõe alguma ilegalidade ou irregularidade. Mesmo se o Brasil todo resolvesse ser bondoso e caridoso com a construção dessa nova basílica e, fizesse doações, dificilmente chegaríamos a esses bilhões que estão sendo investigados”, ponderou Miranda.
De acordo com a denúncia, a rede de desvio de dinheiro da Afipe também envolve empresas de comunicação, postos de combustíveis e até o vice-prefeito de Trindade Gleysson Cabriny de Almeida (PSDB), conforme a denúncia do Ministério Público.
Por mensagem, o político disse ao G1 que não teve acesso ao processo e só deve se pronunciar após ter conhecimento dos autos.
Segundo a arquidiocese, a Igreja Católica foi "surpreendida" com a ação do Poder Judiciário e do MP, mas aceita "com humildade" os atos praticados pela autoridade judiciária. A nota disse ainda que está, junto à Província dos Missionários Redentoristas de Goiás, "aberta para apurar com transparência quaisquer denúncias em desfavor de seus membros".
Ainda de acordo com a arquidiocese, o padre pediu afastamento "até que se esclareçam todos os fatos". As funções do padre Robson serão assumidas, de forma interina, pelo padre André Ricardo de Melo, provincial dos Missionários Redentoristas de Goiás.
Em uma coletiva de imprensa, na tarde desta sexta-feira, o advogado Pedro Paulo Medeiros, que faz a defesa do padre, disse que o religioso está "chateado com acusações, mas tranquilo". Segundo o cliente lhe disse, “aquele que anda com verdade não tem o que temer com acusações”. Ainda de acordo com a defesa, a Afipe e o padre estão à disposição do Ministério Público.Do G1
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