quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ARTIGO : ESMOLAS DA SECA

Por Edilson Xavier*
Pelo titulo do presente artigo, obviamente o leitor pensará que irei abordar obras célebres como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Geografia da Fome, de Josué de Castro e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, ou de outras que já abordaram a miséria secular da seca que sempre assola o Nordeste, colocando os nordestinos na triste condição de flagelados, adjetivo que era para está em desuso.
Não se trata dos temas literários, mas com certeza, somos obrigados a abordar esse difícil tema que é o flagelo da seca que agride e humilha os nordestinos, sem qualquer distinção, desde que dependa da agricultura para, pelo menos tentar sobreviver condignamente. Entretanto, o que nos motiva escrever sobre o tema, é que quando somos assolados pela seca, a primeira impressão que os Governos da União e dos Estados, nos causam, é que estamos necessitando de ajudas alimentícias, como estivéssemos a esmolar em busca de cestas básicas, e passamos a ser tratados como verdadeiras levas de famintos, sem o mínimo respeito.
Esse é o tratamento que nos proporcionam os governos de todas as esferas, como se precisássemos de cestas básicas para nosso sustento a cada período de seca. Nos primeiros sinais de estiagem, a sociedade e os órgãos mal informados, partem na frente para recolher doações, como se a seca e o problema do Nordeste fossem resolvidos com essas esmolas.
Não, a região nordestina necessita há muito é de obras hídricas e de uma politica de distribuição dos recursos hídricos, que têm o condão de resolver definitivamente o grave problema dos efeitos da estiagem. O fato assume mais gravidade, quando se depara com a paralisação da obra da transposição das águas do Rio São Francisco, sem que nenhum órgão governamental fale em seu reinício. Quem passa em Sertânia e Custódia se depara com o triste espetáculo de abandono da obra que seria a redenção do Nordeste, que, inclusive, foi objeto de mais uma promessa de campanha eleitoral da então candidata Dilma, que em palanque elegeu a obra como a redenção nordestina.
Puro discurso eleitoreiro que rapidamente se transformou em verdadeiro estelionato eleitoral, eis que a promessa da conclusão daquela obra que granjeou a simpatia dos nordestinos, garantindo a eleição da presidente e o que se vislumbra é o triste espetáculo da obra da transposição no mais completo abandono, causando danos irreparáveis à União e a todos nós. E o compromisso de campanha sequer assumido?
Esquecem que Lula e Dilma pernoitaram em Rio da Barra, demonstrando simpatia eleitoral com a causa e o inicio das obras. Mera e vã promessa. E eles têm certeza que basta apenas a distribuição de cestas básicas para calar os flagelados da seca. Engano d’alma ledo e cego, desculpando o toque camoniano de metáfora.
Contudo, o mais grave em tudo isso, é que o Ministro da Integração Fernando Bezerra Coelho é de Pernambuco, e não externa nenhuma vontade quanto ao reinicio das obras da Transposição. Os demais governadores do Nordeste, nada cobram, e vivem no mais completo mutismo. A presidente Dilma foi a Fortaleza inaugurar o novo estádio Castelão, e ainda não visitou as áreas do Nordeste atingidas pela mais terrível seca em 50 anos. Também visita eleitoreira não resolve.
A lista é de 128 Municípios que enfrentam a maior seca. Precisamos ter nos programas Águas para Todos e Irrigação para Todos e os governantes precisam acordar, e, por sua vez, a estiagem não cochila, como fazem as autoridades em todos os níveis. A seca produziu um prejuízo de R$ 16 bilhões em 2012 no Nordeste com as perdas da cultura de feijão e milho e atividades que deixaram de ser desenvolvidas em função do plantio e colheita desses grãos. A ausência de obras que criem política de recursos hídricos, contribuem para o aumento da desigualdade social que grassa nos bolsões de miséria e nos Estados mais atrasados. A solução não é a distribuição de cestas básicas que trazem apenas mais humilhação.        
*Edilson Xavier é advogado, foi presidente da Câmara Municipal e da OAB de Arcoverde.
 
 
 Nill Júnior

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