A
escassez de comida na mesa de muitos paraibanos está levando uma
família da cidade de Alagoa Grande (na região do Brejo, a 107 km de João
Pessoa), à uma situação extrema: caçar roedores para complementar a
alimentação. Na comunidade Barreiras, no Sítio Tambor, virou rotina
crianças saírem quase todos os dias, sempre à tarde, para colocarem
armadilhas para 'rato de Junco'. O prefeito da cidade disse que o
Município vai ajudar a família, mas que já teria oferecido apoio
anteriormente e eles teriam recusado.
A
caça ao animal é artesanal e feita em uma lagoa que fica no centro da
cidade. Uma das crianças revelou que há uma semana sua família se
alimenta com rato, porque não dinheiro para comprar a “mistura” e nem
outros alimentos. “A gente vai um dia sim, outro não. A gente mete o pau
no ninho e mata os ratos (sic)”, contou um menino de 10 anos.
O
registro da situação de extrema pobreza de uma família que é comandada
por uma mulher de nove filhos foi feito pelo blogueiro Júlio Araújo. Ele
flagrou um grupo de crianças saindo de um matagal com os animais já
prontos para o consumo.
“Eu fui até a casa da família para
fazer uma reportagem sobre um homem que tinha morrido na comunidade.
Quando estava iniciando a matéria, vi as crianças saindo do mato com os
animais e todos tratados. Perguntei para qual a finalidade dos animais e
eles foram enfáticos: para comer. Fiquei chocado com a situação de
pobreza da família”, relatou Queiroz, com um tom de emoção.
O
imóvel onde a família mora ainda é feito de barro. A casa de poucos
cômodos não possui rede de esgoto, a instalação elétrica é feita com
gambiarras e não há higiene. Para matar a sede, os garotos pegam água de
um açude próximo onde não há tratamento adequado para o consumo.
“Podemos dizer que é uma pobreza muito grande, que não sei mensurar.
Fiquei muito chocado e comovido. Eles bebem água barrenta que pegam em
um açude. Daí, usei o jornalismo para tentar ajudar essa família e
amenizar a dor dessas crianças”, disse o blogueiro.
Apesar de a
maioria dos moradores da comunidade ter acesso ao programa Bolsa
Família, eles – que sobrevivem com cerca de R$ 240 - afirmam que o
dinheiro que recebem não dá para comprar a "mistura" para complementar o
almoço e o jantar, e acabam saindo à caça de ratos para suprir a falta
de carne nas refeições.
O homem que foi encontrado morto, de
acordo com o registro feito na delegacia local, era o chefe da família
citada na reportagem e teria cometido o suicídio porque devia R$ 150 a
um comerciante na compra de uma cesta básica para alimentação dos
filhos. Como não tinha condição financeira para quitar o débito,
resolveu tirar a própria vida.
Segundo o Portal da Transparência
do Governo Federal, somente este ano, o município de Alagoa Grande
recebeu pouco mais de R$ 4 milhões e 226 mil par atende os
beneficiários do Bolsa Família.
'Rato do Junco'
Segundo
Ivonete Márcio, bióloga e integrante da Vigilância Ambiental de João
Pessoa, o ‘Rato de Junco’ é uma espécie de animal silvestre de hábitos
noturnos semi-aquático. “Não há relato de problemas de saúde em
decorrência da ingestão do animal. Em muitas regiões isso é consumido,
mas devemos ter alguns cuidados com a higienização. O rato pode
transmitir algumas doenças típicas das ratazanas”.
O animal é um
roedor maior que o rato-comum-das-casas, de cor geral avermelhadas na
região superior e cinza ventralmente.Alimenta-se de partes de vegetais
aquáticos, sementes silvestres e cultivadas,mas podem até chegar a
comerem animais invertebrados. Os ninhos são construídos em touceiras de
capim, geralmente em terrenos brejosos; suas ninhadas chegam a até 10
filhotes.Correio da PB
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