A Agência Nacional de Águas (ANA) manteve as vazões de água dos reservatórios de Sobradinho,
na Bahia, em 900 metros por segundo e a de Três Marias em 500 metros
cúbicos por segundo até o final de novembro. Nesta terça-feira, o
reservatório de Sobradinho atingiu 4,96% do seu volume útil, o mais
baixo já registrado desde a entrada em operação desse reservatório no
final da década de 70. O nível é quase o mesmo de 2001, quando o País
enfrentou um racionamento de energia.
A decisão vai prejudicar os produtores do Vale do São Francisco
que podem ficar sem água para irrigar os seus plantios, caso não
ocorram chuvas que alimentem o São Francisco, que nasce em Minas Gerais.
Os empresários do Vale defendiam um aumento de 100 metros cúbicos por
segundo na vazão do reservatório de Três Marias que está com 15,27% do
seu volume útil.
O volume útil indica a quantidade de
água que pode ser usada para a geração de energia. É a quantidade de
água acima do volume morto, quando não pode ser produzida energia.
Segundo nota divulgada pela ANA, Três Marias é uma das reservas
estratégicas para a segurança hídrica da bacia, que pode ser fundamental
caso o próximo período úmido seja abaixo da média, o que vem ocorrendo
nos últimos anos na região. A decisão da ANA teve a influência da Cemig que deseja ter mais água para poder gerar mais energia.
A água do Velho Chico vem sendo poupada
para produzir energia desde 2013 com alteração das vazões,
principalmente da de Sobradinho. Ainda na nota, a ANA informa que os
representantes dos usuários da bacia se prepararem, pois, dependendo das
condições hidrológicas futuras, a vazão mínima poderá ser reduzida.
Preocupados com a negativa de aumentar a
liberação de água para o Vale do São Francisco, os produtores vão
iniciar uma articulação empresarial e atrair lideranças políticas para
discutir à escassez hídrica.
“A situação no Vale é de uma
bomba-relógio. A decisão da ANA vai significar uma crise financeira,
econômica e social na região, justamente num momento em que a atividade
se recuperava dos impactos da crise econômica mundial. Sem água as
plantas vão morrer e a recuperação será lenta. As plantas levam quatro
anos para se recuperar e 15 para voltar a produzir uma boa safra. Isso
sem falar no prejuízo financeiro e social. O investimento em um hectare
de uva chega a R$ 100 mil e no caso da manga é de R$ 35 mil. Hoje temos
25 mil hectares cultivados com as duas culturas no Vale. Os empresários
também vão demitir os funcionários. Hoje o Vale emprega 150 mil
pessoas”, diz o presidente do Sindicato Rural de Petrolina, Edis
Matsumoto. O produtor explica que o grande volume de água utilizado na
irrigação (17 m³/s) inviabiliza o uso de alternativa como carro-pipa.
Produtor do Projeto Nilo Coelho, Marcos
Iuri Alencar diz que empresários e produtores aguardam um comunicado
oficial da Cemig, da ANA e do ONS.
“Produzo no Vale há 23 anos e esta crise está sendo pior até que a de
2001. Esperamos que o governo apresente uma solução para o problema. Da
nossa parte não vislumbramos qualquer alternativa, porque o
abastecimento só será suficiente até o final de novembro”.
População também pode ser afetada
O presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa),
Roberto Tavares, disse ontem, que a produção de energia não pode estar à
frente do abastecimento humano e que o setor elétrico deveria pagar
pelos transtornos causados com a diminuição da vazão de Sobradinho
realizada para poupar água e gerar energia. Em Pernambuco, pelo menos 22
cidades do Sertão são abastecidas com a água do Rio São Francisco.
Segundo ele, as reduções das vazões de
Sobradinho já causaram uma diminuição de 65 centímetros no nível do rio
nos locais onde a Compesa faz a captação da água. “Temos dois sistemas
que são paralisados duas vezes por semana, porque como a captação ficou
num nível mais baixo, entra muita lama, plantas e sujeiras”, conta
Roberto.
Na paralisação, é feita uma limpeza dos canos. Ele estava se referindo aos sistemas da Adutora do Oeste, que faz a captação em Orocó, levando a água para mais 13 municípios, e a Adutora do Sertão,
que abastece Salgueiro cinco cidades. Também são abastecidos pelas
águas do São Francisco Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista e
Petrolina.
“Temos recebido alertas de que talvez a
vazão de Sobradinho fique em 800 metros cúbicos por segundo. Se isso
acontecer, deve ocorrer uma baixa de mais 15 centímetros nos locais de
captação da água”, comenta.
Essa redução vai tornar necessário uma
captação de água flutuante com um custo estimado de R$ 12 milhões. A
expectativa de Tavares é que esses recursos sejam bancados pelo governo
federal porque a Compesa está construindo várias adutoras emergenciais
por causa da seca no Agreste e Sertão do Estado.
A vazão normal de Sobradinho é de 1,3
mil metros cúbicos por segundo e a redução de água diminuiu a quantidade
de energia produzida pela usina de mesmo nome. No entanto, não há risco
de racionamento, como ocorreu em 2001, porque agora há as térmicas e as
eólicas produzindo mais energia.Do JC
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