quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Onde o Brasil ainda não é independente


Produtos mais vendidos para fora, em volume, são todos de ordem primária: minérios de ferro, óleos brutos de petróleo, açúcar bruto, celulose, e por aí vai / Foto: Agência Brasil
Agência Brasil  e JC
Foi há 195 anos que o Brasil deixou de ser colônia portuguesa para se tornar uma nação independente. Era um 7 de setembro, como esta quinta-feira, em um País bem diferente. Algumas coisas, no entanto, não mudaram muito. Desde o seu descobrimento – simbolicamente, hoje sabemos, datado em 1500 –, o País foi classificado como área de exploração, não de colonização. Por isso, saíram daqui pau-brasil, cana-de-açúcar, café, enquanto manufaturas faziam o caminho contrário. E ainda fazem. Numa realidade globalizada – onde nenhum país é uma ilha – continuamos a ser a “fazenda” do mundo. Sozinho, esse fator poderia não ser tão ruim quanto parece, mas, diante de uma realidade em que os entraves econômicos são batizados com o nosso nome – o Risco Brasil – a dependência ainda é uma realidade negativa.


A listagem da balança comercial brasileira referente a 2016 deixa esse quadro bem claro. Os produtos mais vendidos para fora, em volume, são todos de ordem primária: minérios de ferro, óleos brutos de petróleo, açúcar bruto, celulose, e por aí vai. Por classificação de produtos, se destacaram insumos elaborados para a indústria (26,75%), alimentos básicos para abastecimento industrial (15,34%) e insumos básicos para a indústria (11,5%). Bens de capital – aqueles que são meio de produção para outros bens –, por exemplo, representaram apenas 5,53% da nossa balança comercial.
Mas por que é que pode ser tão ruim uma balança comercial dependente de commodities? Além de terem um valor agregado menor do que aqueles produtos que passam por algum nível de manufatura, seus preços são cotados internacionalmente e se tornam mais vulneráveis a fatores externos como o câmbio e os níveis de produção do mercado internacional. Um exemplo dessa oscilação é o barril de petróleo. Hoje cotado em torno de US$ 50, na história recente, ele variou de US$ 121 em julho de 2008, com a explosão de um gasoduto na Arábia Saudita, a US$ 25 em janeiro do ano passado, diante da superprodução mundial.
É essa oscilação que explica, em parte, o fato de o volume de exportações do Brasil ter crescido 2,9% em 2016, mas o valor arrecado com os produtos mandados para fora do País ter variado negativamente em 3,5%.
“O pior é que não só exportamos produtos primários. Nós reimportamos esses mesmos produtos depois de serem refinados. Fazemos isso com o café, por exemplo, que mandamos em grãos e o recebemos de volta manufaturados de países como a Alemanha”, destaca o coordenador do MBA do Cedepe, Tiago Monteiro. Mais uma vez usando o petróleo como exemplo, mas nesse outro contexto, somos produtores de diesel, gasolina e coque de petróleo (um subproduto das refinarias, de valor agregado baixo), enquanto os produtos mais nobres, como o querosene de aviação e o bunker (combustível dos navios) continuam sendo importados.
Apesar dos perfis bem diferentes entre o que entra e o que sai pelos portos do País, o professor do departamento de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcelo Eduardo discorda que a dependência das commodities seja a essência do problema. “O que temos é uma competitividade muito baixa, uma economia ainda muito fechada. A partir do momento em que se abre a economia, os produtores internos são obrigados a melhorar em competitividade, em produtividade e em qualidade, ou não vão sobreviver”, destaca.

ALÉM DA BALANÇA

Como exemplo, ele lembra a abertura econômica promovida pelo governo Collor, no início dos anos 1990, que ficou marcada pela entrada de automóveis no País. Um resultado emblemático foi a extinção do Gurgel, um automóvel 100% nacional lembrado pela baixa eficiência. Mas o professor vai além: lembra que os governos precisam também investir na qualidade da educação básica, não apenas no volume de acesso ao ensino superior.
A educação também é um entrave destacado por Monteiro. Ele lembra que ela interfere não apenas no fator produção, mas também no comportamento de consumo. “Temos um mercado interno de perfil determinado pela ostentação, diferente de países com população mais esclarecida e orientada onde o consumo interno tende a ter comportamentos de investimento e poupança”, pondera.
“Em termos de comparação histórica, nos últimos trinta anos, o Brasil evoluiu bastante em termos de investimento e desenvolvimento do comércio exterior. Mas, numa comparação mais ampla, a gente ainda ocupa posições muito insignificantes no comércio exterior global”, diz Tiago Monteiro.

SALVAÇÃO

Símbolo de dependência ou não, é o setor agrícola que vem salvando o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano. Nos números do segundo trimestre, divulgado na semana passada, mostram que o desempenho da agropecuária ficou estável, mas, no primeiro trimestre, o setor foi o grande responsável por um número positivo. O crescimento foi de 13,4% na comparação com o período anterior.

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